O papel da mulher na produção do café, a união de forças para cadeias produtivas mais competitivas e a importância da bioeconomia foram alguns dos assuntos levantados durante a Oficina de construção dos Planos de Fortalecimento das cadeias do café e de peixes redondos, promovida pelo Projeto Rural Sustentável – Amazônia. O encontro aconteceu em Porto Velho (RO), nos dias 9, 10 e 11 de outubro, e reuniu Organizações Socioprodutivas (OSPs) locais, atores governamentais, empresas e organizações do terceiro setor para o início da definição conjunta de estratégias, olhando tanto para o contexto dos atores locais como para o fomento de cadeias produtivas mais inclusivas e sustentáveis no estado.
Cenário atual
Rondônia é um dos maiores produtores de café do país, com 6,4% da produção nacional, e o maior da região Norte (IBGE, 2023). Esse é o resultado da alta produtividade da base da cadeia produtiva, composta por mais de 17 mil cafeicultores e cafeicultoras atuantes no estado (SEAGRI, 2020). Entre as principais espécies cultivadas, encontram-se o tipo robusta: exemplo de sustentabilidade e de alta qualidade, além de ser o café produzido pelas três OSPs parceiras locais: a Associação Gap Ey, a Cooperativa de Produção e Desenvolvimento do Povo Indígena Paiter Suruí (COOPAITER) e a Associação Indígena Fluvial Õtaibit.
Já quando se fala em peixes redondos, Rondônia é o maior produtor de espécies nativas do país, especialmente do tambaqui (Embrapa, 2022). O pescado junto às outras espécies, como pirapitinga, pacu, tambacu, patinga e tambatinga, é de fácil manejo, de água doce, nativas do estado e fonte de renda das famílias piscicultoras – como das outras duas OSPs parceiras: Cooperativa dos Produtores de Peixe de Monte Negro (COOPEMON) e a Colônia de Pescadores e Aquicultores Z-1 Tenente Santana.
Os três dias de oficina serviram exatamente para trazer à luz dados como esses e dos diagnósticos das duas cadeias produtivas, realizado pelo PRS – Amazônia em parcerias com as OSPs, no primeiro semestre deste ano. Dados que fomentaram as rodadas de conversas entre todos os atores locais, e o mapeamento dos principais desafios, lacunas e potencialidades.
O primeiro dia de oficina foi com os atores governamentais
O primeiro dia de oficina trouxe o olhar de quem pode fomentar iniciativas, projetos e políticas públicas capazes de apoiar todos os elos que formam a cadeia produtiva e, com isso, aumentar o potencial competitivo a nível regional e nacional. Entre as instituições presentes, estavam: o Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA), a Superintendência Federal de Pesca e Aquicultura (SFPA-RO), a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), a Entidade Autárquica de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Rondônia (EMATER-RO), a Secretaria de Estado de Planejamento, Orçamento (SEPOG), a Universidade Federal de Rondônia (UNIR), a Secretaria de Estado e da Agricultura (SEAGRI) e o Banco da Amazônia.
Henrique Alves, pesquisador da Embrapa-RO, destaca o crescimento da bioeconomia na Amazônia e a importância da oficina para trazer estratégias que impulsionam a produção sustentável. “A sociobioeconomia tem crescido na Amazônia com uma capacidade de gerar renda, qualidade de vida enquanto a floresta é conservada. E temos dois produtos que são importantes para a agricultura familiar, tanto a piscicultura quanto a cafeicultura”, conta.
Ele ainda acrescenta: “A cafeicultura tem mais de 17 mil famílias no estado. A gente viu que a cafeicultura evoluiu em termos de produtividade e qualidade, mas ainda precisa evoluir em termos de sustentabilidade. Então, toda a estratégia em prol de uma piscicultura e agricultura mais sustentável é totalmente compatível com o que a gente precisa na Amazônia”, destaca.
A Raica Xavier, do Ministério da Pesca e da Aquicultura, compartilha a importância de momentos que promovam o diálogo e a escuta entre produtores, comerciantes e o Estado para chegar a um acordo comum. “Hoje vimos onde já avançamos e onde precisamos continuar trabalhando. Muitos são os problemas antigos que já resolvemos, mas outros a gente ainda precisa tentar resolver”, destaca.
No segundo dia, quem marcou presença foram os atores de mercado
Já no segundo dia, foi a vez dos atores de mercado contribuírem com suas perspectivas para que as etapas do cultivo à comercialização desenvolvam-se de forma mais fluida, respeitando os princípios de qualidade e sustentabilidade. Participaram a Amazon Coffee, Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), Pacto Rural, Slow Food, Empresa Estadual de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Rondônia (EMATER-RO), Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR-RO), ECOPORÉ, UNICAFES (RO) e Viveiro Café & Cia.
A produtora Juliana Closs conta que iniciou o seu plantio de café há pouco meses e diz estar empolgada com todo o conhecimento que adquiriu durante a oficina.“Essa diversidade de olhares e saberes, e a junção de conhecimentos, facilita o entendimento e abrevia caminhos para nós!”, contou.
Sheila Noeli, da Ação Ecológica Ecoporé, compartilha da mesma visão que a Juliana e complementa falando sobre a importância da atuação da mulher no campo – muitas vezes invisibilizada dentro e fora de casa. “A mulher é o cerne da casa, ela leva tecnologia para dentro de casa, ela leva práticas agroecológicas e o acesso a mercados também […]. Ela tem uma atenção especial porque ela volta para a saúde da família. Ela internaliza muito rápido, porque ela está pensando na qualidade do alimento que ela vai dar para a família que vai sair da propriedade dela. Então, é um dos grandes potencializadores dessas ações”, destaca.
Já o terceiro dia foi com as organizações socioprodutivas locais
O momento foi de troca de conhecimento e escuta ativa para entender, a partir do olhar das OSPs, quais seriam os caminhos a percorrer para mitigar os desafios presentes no dia a dia e, com isso, potencializar a inserção dos seus produtos em atuais e novos mercados. A Associação Gap Ey, a Cooperativa de Produção e Desenvolvimento do Povo Indígena Paiter Suruí (COOPAITER), a Associação Indígena Fluvial Õtaibit, a Cooperativa dos Produtores de Peixe de Monte Negro (COOPEMON), a Colônia de Pescadores e Aquicultores Z-1 Tenente Santana e a Associação de Criadores de Peixes do Estado de Rondônia (ACRIPAR) estiveram presentes.
A produtora Jaqueline Berg, secretária executiva na ACRIPAR, acredita que, apesar dos desafios diários, o tambaqui tem tudo para ir além do mercado estadual e regional e conquistar pessoas de todo o país. “O nosso maior desafio é a gente continuar abrindo mercado para não ficarmos reféns de apenas alguns compradores, manter o padrão e a qualidade, assim como produzir mais […]. O mundo precisa de alimento, precisa de proteína e o tambaqui é uma proteína saudável, saborosa. É uma riqueza do estado de Rondônia. É um peixe nosso, da região amazônica. A gente vê muito potencial no que o tambaqui é. O nosso desafio é levar o tambaqui onde ele ainda não chegou”.
Já para o seu José Geraldo, da COOPEMON, o maior aprendizado que fica é que o problema de um é também o problema do outro. “A gente tem muitos desafios, mas a nossa troca de ideia chegou a um ponto em que percebemos que [os nossos desafios] são comuns a todos, mas não está difícil, unindo forças a gente vai!”, finalizou.
Essas e outras percepções levantadas durante os três dias inspirararão planos com ações integradas, considerando a perspectiva de todos os elos que compõem as cadeias produtivas do café e de peixes redondos no estado. As Oficinas de Fortalecimento estão previstas para acontecer nos três estados de atuação do Projeto, como aconteceu no Pará e em Rondônia. A próxima será no estado do Amazonas. Continue acompanhando por aqui e fique por dentro de todas as ações do PRS – Amazônia!