Mapear realidades para o desenvolvimento sustentável das cadeias produtivas, das Organizações Socioprodutivas (OSPs), e outras formas de impulsionar inserção em novos mercados e de engajar lideranças: esse foi o objetivo das oficinas realizadas com as OSPs do Amazonas, envolvidas no Projeto Rural Sustentável – Amazônia. No estado, 3 delas atuam com a cadeia produtiva do pirarucu de manejo e 3 com a castanha-do-Brasil. As visitas foram feitas em 5 organizações parceiras do Projeto, entre os meses de maio a julho.
As oficinas do PRS – Amazônia nasceram com o propósito de construir em conjunto as ações centrais do Projeto, por meio de um trabalho colaborativo com as OSPs. A partir das percepções das organizações, será possível elaborar Planos de Fortalecimento de Cadeias Produtivas, Planos de Negócios personalizados e Estudos de Mercados, que contenham as principais demandas das organizações. As atividades foram desenvolvidas a partir de 4 frentes de atuação:
- Mapeamento do contexto, aspirações, possibilidades, dificuldades e potencialidades de cada OSP, para construir os Planos de Negócio personalizados e participativos.
- Diagnóstico das cadeias produtivas, a partir do olhar das organizações para elaborar os Planos de Fortalecimento de Cadeias Produtivas.
- Fortalecimento de lideranças e engajamento de novos líderes para fortalecer a participação social no contexto das organizações.
- Estudo de mercado, a partir dos diferenciais dos produtos que já estão sendo comercializados pelas OSPs, e outros que possam ser potenciais para impulsionar a inserção de novos produtos em novos mercados.
O Amazonas é o terceiro, dos três estados contemplados pelo Projeto, a receber as quatro oficinas. Por lá, as ações estão sendo direcionadas à cadeia do pirarucu de manejo e da castanha-do-Brasil. Enquanto no Pará, os trabalhos são com o cacau e o açaí e em Rondônia com a cadeia do café e dos peixes redondos.
Conheça as organizações socioprodutivas de Rondônia
1. Associação de Moradores Agroextrativistas da Comunidade de Repartimento
Castanha do Brasil | Manicoré | 35 famílias
2. Associação Comunitária Indígena Nova Esperança do Povo Kokama (ACINEPK)
Castanha do Brasil | Tefé | 49 famílias
3. Associação dos Moradores e Produtores Agroextrativistas da FLONA de Tefé e Entorno (APAFE)
Castanha do Brasil | Tefé | 32 famílias
4. Associação dos Produtores Rurais de Carauari (ASPROC)
Pirarucu de Manejo| Carauari | 99 famílias
5. Associação do Povo Deni do Rio Xeruã (ASPODEX)
Pirarucu de Manejo| Itamarati | 31 famílias
6. Associação de Produtores Rurais do Setor São José (APSSJ)
Pirarucu de Manejo| Maraã | 35 família
Cadeia Produtiva do pirarucu de manejo
Pirarucu é um dos maiores peixes de água doce do mundo, porém sua pesca desordenada levou a espécie à lista de espécies em perigo de extinção. Já o manejo é o modo sustentável da sua pesca, pratica que sustenta quase 300 famílias de pescadores das organizações parceiras do Projeto: Associação de Produtores Rurais do Setor São José (APRSSJ), Associação dos Produtores Rurais de Carauari (ASPROC) e Associação do Povo Deni do Rio Xeruã (ASPODEX). Muitas dessas famílias, ribeirinhas e indígenas, precisam lidar com a pouca estrutura para evisceração do pescado e a falta de meios próprios para transportar a produção até Manaus – um dos municípios onde o peixe é comercializado.
Nos últimos meses, a APRSSJ e a ASPODEX participaram das oficinas do PRS-Amazônia, trazendo a realidade das populações locais para o centro do debate, enquanto a ASPROC receberá a equipe do Projeto em um outro momento. Para Tiago Simon, assistente de planejamento e gestão, a maior diferença das oficinas no Amazonas para as outras é que, desta vez, as atividades foram realizadas no mesmo período, devido a logística do estado e o difícil acesso às comunidades – quando os rios secam de forma extrema, ocasionado pelos impactos dos efeitos da mudança climática.
“Essas oficinas são o começo dos planos e ações fundamentais do Projeto. Foi um baita desafio, mas foi muito bom ver como a atividade de uma oficina acabou ajudando ou complementando a da outra, e todo mundo comentou que foi bem valioso ter todos ali reunidos. Fluiu bem e mostrou que as ações do Projeto se complementam, que elas fazem sentido juntas nesse quebra-cabeça”, disse ele.
Da capital do estado até a APRSSJ, no Município de Maraã (AM), são mais de 600 km de distância. E é de lá que William Carlos, coordenador na organização, compartilha os seus maiores desafios. “Quando chega a época da pesca, a gente não tem como levar a produção até a capital. As estiagens estão sendo demais nesses últimos anos, e quando a gente consegue o barco, a água dos rios já está muito baixa e prejudica na captação da cota (limite de peixes que podem ser pescados). Somos 43 famílias envolvidas diretamente com a cadeia produtiva. Então, é muito complicado isso”, afirma.
Exatamente por isso, Simon destaca que as oficinas foram importantes para entender a realidade em que as OSPs estão inseridas, desde os desafios cotidianos aos mais profundos, assim como as grandes oportunidades ainda não vistas. Dessa forma, as informações levantadas nortearão a construção conjunta de Planos de Negócios, Planos de fortalecimento de cadeias e Estudos de mercados, que melhor reflitam as necessidades e anseios das organizações. “As oficinas resultaram em diagnósticos das organizações, que vão servir para embasar os documentos e as próximas ações importantes para as organizações. Do nosso lado também, um resultado muito importante foi o estreitamento do nosso relacionamento com as OSPs”, finaliza.
Cadeia Produtiva da Castanha-do-Brasil
Entre as árvores exuberantes que compõem as paisagens do Amazonas, é possível encontrar os castanheiros e castanheiras, que anualmente fazem a colheita da Castanha-do-Brasil. E foi um mês depois do fim da colheita, nos municípios de Tefé e Manicoré, que a equipe do PRS-Amazônia fez a sua parada no estado, iniciando as oficinas com as comunidades indígenas da Associação Comunitária Indígena Nova Esperança do Povo Kokama (ACINEPEK), comunidades quilombolas e ribeirinhas da Associação dos Moradores e Produtores Agroextrativistas da FLONA de Tefé e Entorno (APAFE), além da Associação de Moradores Agroextrativistas da Comunidade de Repartimento.
Segundo a Coordenadora de fortalecimento de cadeias e de mercados, Marccella Lopes, as oficinas de diagnósticos de Planos de Negócio e das cadeias produtivas foram importantes para diagnosticar características específicas da produção na região. “Com as oficinas, diagnosticamos a partir do olhar das OSPs os diferentes atores envolvidos na cadeia da castanha-do-Brasil, suas inter relações o volume de produção da castanha, o preço praticado no mercado local, o destino comercial dessa produção , assim como os desafios, oportunidades e a visão de futuro dessas comunidades e organizações para fortalecer esse setor da economia da sociobiodiversidade, principalmente da castanha-do-Brasil”, destaca. A Coordenadora ainda conta que foram utilizadas metodologias ativas e participativas para gerar um entendimento coletivo entre os castanheiros e castanheiras e entre as associações, promovendo o associativismo e o cooperativismo para a solução de desafios gerenciais dos empreendimentos .
Um dos grandes destaques das oficinas, segundo Lopes, foi o engajamento de um público representativo e comprometido em mitigar as barreiras da cadeia produtiva da castanha-do-Brasil. A Coordenadora ressalta a história de luta e resistência das comunidades extrativistas, em especial dos quilombolas da comunidade São Francisco do Rio Bauana, localizada no entorno da Floresta Nacional de Tefé, do município de Alvarães (AM).
Já na ACINEPK, os diagnósticos de mercado, cadeias produtivas e para o Plano de negócios identificaram que a associação começa a acessar políticas públicas de compras institucionais – em especial o PNAE e o PAA, programas do Governo Federal que podem adquirir os produtos da sociobiodiversidade amazônica a valores maiores, se comparado ao preço praticado no mercado local. Essas são algumas das oportunidades já mapeadas, a partir das oficinas.
Vale ressaltar que, além da castanha-do-Brasil, há uma imensa biodiversidade com potencial de comercialização com uma sazonalidade complementar da produção da castanha-do-Brasil. “Identificamos juntos às comunidades uma imensa diversidade de produtos de uso não madeireiro, que mantém a floresta em pé à medida que as populações manejam espécies nativas da floresta Amazônica“, finaliza Marccella.
O que vem por aí
A partir das oficinas, as informações da cadeia do pirarucu de manejo e da castanha-do-Brasil serão sistematizadas para servir como base para traçar, junto às populações locais e OSPs, os melhores caminhos para apoiar nas demandas de cada organização parceira e da cadeia produtiva nas oficinas preparatórias de construção dos planos de fortalecimento, junto com outros segmentos que compõem esses setores.
As oficinas serão realizadas em conjunto com as OSPs desses municípios, envolvendo diretamente os beneficiários do projeto e suas associações, para agregar valor e renda às famílias extrativistas. Segundo a Coordenadora, Marccella Lopes, serão reunidos castanheiros e castanheiras, instituições de apoio, governamentais, além de atores intermediários das cadeias, para a construção de um entendimento coletivo sobre o que é comum e estratégico. E, a partir disso, traçar objetivos conjuntos, em um planejamento de fomento do manejo sustentável na Amazônia para os próximos 5 anos: o Plano de Fortalecimento da cadeia produtiva.
Além do Amazonas, há OSPs que trabalham com as cadeias produtivas do café e peixes redondos, em Rondônia; e no Pará, com o cacau e o açaí. Acesse aqui e saiba mais sobre as rodadas de oficinas anteriores, realizadas em Rondônia.