Compartilhar as boas práticas na lavoura cacaueira, gerar renda no período de entressafra do açaí, atender a demanda do mercado com qualidade e sustentabilidade: esses foram alguns pontos levantados na Oficina de Fortalecimento da cadeia produtiva do açaí e do cacau. Do dia 10 a 12 de setembro, o Projeto Rural Sustentável – Amazônia dialogou com Organizações Socioprodutivas (OSPs) do Pará, autoridades governamentais, empresas e organizações do terceiro setor para revisitar os diagnósticos realizados com as OSPs parceiras do Projeto, e refletir sobre as lacunas, potencialidades e desafios presentes em cada etapa que compõe as cadeias produtivas.
O Pará é responsável por grande parte da produção nacional do açaí (94%) e do cacau (51,80%), segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o que torna o diálogo entre os atores um passo importante para a implementação de práticas sustentáveis ao longo de toda a cadeia produtiva. Cristiane Corrêa, Extensionista Rural na Emater – Pará, destacou a importância das oficinas. “O diálogo entre todos os atores locais envolvidos nas cadeias produtivas é fundamental para um diagnóstico que demonstra a realidade presente na região – assim como possibilita a unidade de esforços para solucionar entraves e gargalos presentes ao longo da cadeia produtiva”, ela conta.
O 1º dia de oficina foi com as OSPs
Esse foi um momento para escutar as demandas trazidas pelas OSPs e incentivar a troca de experiências entre produtores(as) e agroextrativistas. O objetivo foi entender quais são as dificuldades, lacunas e oportunidades de melhoria na cadeia produtiva do cacau e do açaí, pelo olhar de quem faz parte da base produtiva. Estiveram presentes as seis organizações socioprodutivas parceiras do Projeto, no estado: APREMARMU, AMSETEB, AMARQUISI, FVPP, STTR, CAEPIM e AMPPF. O olhar das OSPs, atores de mercado e atores governamentais servirá de inspiração para elaborar um Plano de Fortalecimento.
Uma das atividades realizadas durante o encontro foi o mapeamento das demandas de curto, médio e longo prazo. Leobaldo Costa, da CAEPIM, OSP participante do Projeto na cadeia do cacau, contou um pouco do seu trabalho nas duas cadeias produtivas, destacando a questão do crédito e do capital de giro como pontos de dificuldades. “Quem trabalha com o açaí sabe que a gente tem um problema que é anual, que é a entressafra do açaí, o período em que as famílias não têm renda e ficam esperando voltar a safra novamente. Ai, a gente tá puxando muito para o cacau pra resolver esse problema. A gente trabalha muito com o açaí in natura, por conta da dificuldade e falta de estrutura”.
Ele ainda acrescentou: “a gente precisa muito de crédito. A gente acredita que qualquer produtor precisa desse aporte financeiro para começar qualquer atividade. E um outro problema que a gente encontrou como instituição é o capital de giro. Não fica muito dinheiro para a entidade”.
Durante todo o dia, as OSPs do açaí e do cacau compartilharam entre si, e com a equipe de campo do Projeto, os desafios e experiências adquiridas ao longo dos anos de trabalho no campo. Uma apoiando a outra, mas cada uma com a sua própria vivência, repletas de desafios e aprendizados, que contribuirão para que o Plano de Fortalecimento comece a ganhar forma
Vem ver como foi o primeiro dia
O 2º dia foi com os atores de mercados
Os atores de mercado são aqueles envolvidos nas etapas de beneficiamento, distribuição, logística e comercialização dos produtos. O segundo dia abriu espaço para que esses atores refletissem, a partir da posição que ocupam dentro das cadeias produtivas, sobre como atender à demanda com sustentabilidade, como estabelecer relações mais justas e sustentáveis e como promover a comercialização pensando na conservação da Amazônia.
Marcaram presença na oficina, a Natura, Instituto Peabiru, Caminho da Mata, Nossa Fruits, Instituto Beraca, Muiraquitã, 100% Amazônia, Cortez e Frooty Açaí, Bio Tara Earth, Fundação Solidariedad, IDEFLOR – Bio, Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB), IAEP, IFT- Instituto floresta tropical (IFT), Universidade do Estado do Pará (UEPA) e Secretaria de Estado Agricultura Familiar (SEAF).
O momento gerou reflexões importantes e conexões entre os dois primeiros dias. Um exemplo disso foi a insegurança financeira na entressafra do Açaí, comentada pelas OSPs no primeiro dia, e a perspectiva do Mateus Souza, da Frooty Açaí, no segundo dia, como ator de mercado. “A grande preocupação da empresa para com os produtores e agroextrativistas é sobre o que vai sustentar a entressafra do açaí, que é em torno de quase 5 meses.Devido às mudanças climáticas que a gente está sofrendo, a safra está muito ruim”.
A partir disso, ele compartilhou um pouco sobre as ações que começaram a ser implementadas pela sua empresa, para apoiar neste período de incertezas. “A gente está com um curso para que os produtores tenham renda, não só para a subsistência familiar, mas também para fazer a colheita, a roçagem dentro do padrão de manejo sustentável”, disse ele.
Bruno Lima, representante da Natura, compartilhou o seu olhar para as regiões que sofrem com pragas e doenças nas áreas de cultivo do cacau. “Muito se fala em cacau orgânico, mas há poucos produtos alternativos biológicos para essa cultura, certificados, etc. Essa é uma preocupação para que os produtos cheguem com mais qualidade na mesa dos clientes, seja ele um produto de consumo alimentar, dermatológicos, entre outros”, comentou. A partir dessas perspectivas, esses atores levaram os desafios, potencialidades e estratégias que podem ser importantes para o Plano de Fortalecimento das Cadeias.
Veja alguns momentos marcantes do segundo dia
O 3º dia foi com os atores governamentais
O terceiro dia foi dedicado a técnicos(as), gestores(as) públicos e membros de organizações do terceiro setor – todos diretamente ou indiretamente envolvidos com iniciativas, projetos e políticas públicas voltadas ao fortalecimento das cadeias produtivas. O objetivo foi alinhar esforços com as governanças locais para garantir ações integradas.
Entre os atores governamentais, marcaram presença: a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Pará (EMATER), a Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac), Ministérios da Agricultura e Pecuária (MAPA) e a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Agropecuário e da Pesca (SEDAP), SENAP.
Márcio Celestino, assessor de fortalecimento de cadeias e de mercados no PRS – Amazônia, destaca a capacidade das oficinas em promover melhorias táticas e operacionais, considerando todos os atores envolvidos. “A abordagem participativa garante que os planos para o fortalecimento das cadeias sejam viáveis e aplicáveis, resultando em ações concretas e resultados mensuráveis ao longo do tempo”, finaliza.
Confira alguns registro do terceiro dia
As oficinas de fortalecimento das cadeias foram planejadas para acontecer nos três estados de atuação do Projeto. As próximas oficinas serão realizadas em Rondônia e no Amazonas.