Do dia 24 e 25 de junho, Porto Velho (RO) foi o centro de diálogos estratégicos para fortalecer as cadeias produtivas de café e de peixes redondos, com foco na produção sustentável, inserção dos produtos em novos mercados e geração de renda. O Seminário, realizado pelo Projeto Rural Sustentável – Amazônia, reuniu mais de 90 representantes da base produtiva, de organizações públicas e privadas, para refinar as propostas construídas conjuntamente com cada um dos atores locais – e avaliadas, recentemente, por especialistas das duas cadeias. A expectativa é que as estratégias possam beneficiar diretamente 7 Organizações Socioprodutivas (OSPs) parceiras do Projeto e outras organizações locais, desde o cultivo à comercialização dos produtos, com impacto no setor como um todo.
Estado é um dos grande produtores de café e peixes redondos, com desafios a serem superados nas duas cadeias
Rondônia é um dos grandes produtores de café e peixes redondos do país. Só na safra de 2022/2023 foram mais de 3 milhões de toneladas de grãos de café produzidos, se consolidando como o maior produtor da região Norte e o 5º maior do Brasil, segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento, em 2023. Essa posição de destaque reflete a eficiência de seus mais de 17 mil cafeicultores e cafeicultoras (Embrapa, 2021), com destaque para o cultivo do café robusta – reconhecido por sua qualidade e sustentabilidade no estado.
Enquanto na piscicultura, Rondônia também se sobressai como maior produtor de espécies nativas, especialmente tambaqui (Embrapa, 2022). Esse pescado conta com uma produção anual de cerca de 51 mil toneladas em 2021 – o que representa 47% da produção nacional dessa espécie -, e cerca de R$470 milhões em valor bruto de produção (IBGE/PPM, 2022). Em 2023, a região do Vale do Jamarí recebeu a Indicação Geográfica (IG) Tambaqui Vale do Jamarí, reconhecendo o potencial de produção e de qualidade dessa espécie nativa na região.
No entanto, as duas cadeias produtivas ainda enfrentam desafios significativos, conforme diagnosticado pelo Projeto em parceria com os atores locais do estado. Na cadeia do café, por exemplo, persistem problemas como a precificação abaixo do mercado, problemas logísticos e lacunas na gestão das organizações produtivas. Já na produção de peixes redondos, os principais obstáculos são a comercialização dispersa, a falta de assistência técnica e o baixo valor agregado aos produtos.
Neste contexto, o Seminário teve como objetivo apresentar, pela primeira vez, as propostas de fortalecimento e o estudo de mercado desenvolvidos coletivamente, no último ano. O encontro foi conduzido em etapas: primeiro com discussões específicas com governo, seguido de diálogos com quem faz parte da base produtiva, finalizando com um evento geral aberto ao público. Segundo Pedro Xavier, coordenador de cadeias e mercado: “Essa é uma grande oportunidade de apresentar os resultados dos estudos de cadeia e mercado e os planos de fortalecimento produtivo comercial, elaborados a partir de muito diálogo e escuta ativa, para coletar informações de todos os elos que compõem as duas cadeias, com foco em superar os principais gargalos”.
Evento foi um espaço de troca de saberes e interação entre governo, mercado e a base produtiva das cadeias produtivas de café e peixes redondos
O primeiro momento do Seminário destacou o papel do setor público na estruturação de políticas de apoio às cadeias produtivas, com foco em aumentar o potencial competitivo a nível regional e nacional. Entre os presentes estavam: a Superintendências de Agricultura e Pecuária (SFA/MAPA), Secretaria de Estado do Desenvolvimento Ambiental (Sedam), Secretaria de Estado da Agricultura (Seagri-RO) e outras entidades governamentais.
Herlan Lopes, gerente de piscicultura da Seagri, reforçou o conhecimento compartilhado durante o Seminário como fundamental para implementar ações mais integradas em Rondônia: “As propostas [planos de fortalecimento e o estudo de mercados] dialogam com as políticas públicas que o governo do estado está trabalhando para fomentar as cadeias produtivas do estado – principalmente da aquicultura e pesca, que é a nossa gerência. Fortalecer toda cadeia produtiva no estado de Rondônia é de suma importância para que o pequeno produtor seja valorizado”, destaca.

Já na parte da tarde reuniram-se produtores e produtores rurais em um intercâmbio de experiências, com a participação das 4 OSPs parceiras e das três novas organizações que formalizaram sua adesão ao Projeto. Amauri Guedes, da nova OSP, a Cooperativa de Agroindústrias e Produtores Rurais do Vale do Jamari (Coaprav), relatou como tem sido o início dessa fase: “Esse primeiro contato com o PRS – Amazônia e seus coordenadores e articuladores, foi muito importante, porque a gente percebeu que, além da seriedade no trabalho, vimos a capacidade de todos. Foi interessante, porque, apesar da Coaprav ser atendida pela cadeia de peixes redondos pelo Projeto, muitos na cooperativa trabalham com o café. Então, para nós as informações foram importantíssimas. Primeiro, percebemos quais são os pontos de melhorias e enfrentamentos, depois traçamos alguns objetivos para superá-los”, conta.
Além do espaço de aprendizado com outras organizações, seu Amauri ressalta a interação com o governo e setor privado para o crescimento da OSP da qual faz parte. “Esse espaço de interação com representantes de organizações privadas e do governo é importante porque pode apoiar o pequeno agricultor, que tem uma necessidade maior, pela sua pouca condição de trabalhar as tecnologias, de trabalhar suas vendas. Então, essas organizações vão ajudar a gente a ficar maior. A Coaprav vai sair maior desse evento”, compartilha.
Já na cadeia produtiva do café, quem fala sobre os impactos é a liderança indígena, Joaton Pagater Suruí, associado da OSP Gap Ey, parceira do Projeto no estado, e liderança na comunidade Paiter Suruí. Para ele, um dos maiores desafios é encontrar formas de aprimorar a produção para vender mais o seu café. “A gente tem encontrado essa dificuldade de como melhorar a qualidade do nosso produto e também em como vender. Além disso, muitas das vezes as comunidades indígena deixam de ser assistidas, de forma geral”, ele destaca.
Mas, para a liderança, a parceria com o PRS – Amazônia tem ajudado a acessar informações importantes para superar seus desafios do dia a dia, como aumentar produtividade e beneficiar a produção. “Essa oportunidade que nós temos com o PRS – Amazônia, de levantar o diagnóstico e construir planos é o que trará mudança. […] O beneficiamento da produção, através da assistência técnica, é também uma oportunidade que a gente tá tendo através do Projeto”, compartilha.
Já o terceiro momento foi dedicado às contribuições dos atores de mercado, com propostas para tornar o fluxo da produção até a mesa dos brasileiros mais eficiente, sempre com foco em unir produtividade e qualidade alinhada às práticas sustentáveis. Empresas como a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), Instituto Brasileiro de Desenvolvimento e Sustentabilidade (IABS) e outras marcaram presença no Seminário.
Para Denis Farias, analista do Sebrae e coordenador do projeto Tambaqui do Vale do Jamari mais IG, o encontro trouxe informações para uma atuação mais eficaz no que se refere a licenciamento ambiental, legislação e a própria venda do pescado, por exemplo. “Nós que trabalhamos com a piscicultura, precisamos de mais informações, dados para atuação – e juntar esses dados nos últimos anos tem sido muito difícil. Mas essa iniciativa veio justamente para trazer um pouco de luz a esse trabalho que a gente tem feito”, destaca. Farias conta sobre algumas discussões que vão enriquecer sua atuação dentro da cadeia produtiva.“Foram discussões importantes, sobr à legislação, licenciamento ambiental, que é um gargalo, além da venda desse pescado. Então, esperamos que instituições da iniciativa público-privada também entrem nesse trabalho de dar à luz para o que a gente está fazendo”, conta.
O Seminário foi encerrado com um evento aberto ao público, que reuniu cerca de 90 participantes, incluindo representantes do governo, OSPs, setor privado, empresas de assistência técnica e instituições parceiras. Para Tadeu Assad, coordenador geral do projeto e diretor-presidente do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento e Sustentabilidade (IABS), foi um momento de refletir sobre os resultados e priorizar as próximas ações. “A partir das apresentações, foi possível discutir os resultados dos estudos e definição de prioridades de ação para o Projeto, para fortalecer as cadeias no estado, além articular novas oportunidades”, finaliza.
Saiba mais sobre os Planos de fortalecimento apresentados no Seminário
O Projeto tem construído colaborativamente planos de fortalecimento destinados a cada uma das seis cadeias produtivas apoiada pelo Projeto: açaí (PA), cacau (PA), café (RO), peixes redondos (RO), castanha-do-Brasil (AM) e pirarucu de manejo (AM). Os planos trazem o mapeamento dos atores relevantes em cada cadeia, identificando seus papéis e influências, além da identificação dos problemas prioritários e oportunidades, construídas em parceria com representantes do setor público, privado e base produtiva de cada estado. O objetivo é trazer soluções inovadoras para a produção e diversificação produtiva, acesso a novos mercados e geração de renda, além de ser um guia para o desenvolvimento sustentável e competitivo dessas cadeias nos próximos anos.
Saiba mais sobre o Estudo de mercados
O estudo traz uma análise de mercado com a identificação de tendências, gargalos e oportunidades de desenvolvimento para cada uma das seis cadeias. O material foi realizado por meio de entrevistas, questionários, consultas públicas em xx pontos de venda nacional e internacional, permitindo um diagnóstico preciso das principais demandas e potencialidades sobre as seis cadeias produtivas.
Os dados coletados serviram de insumo para a elaboração do Plano de Ampliação e Diversificação, com propostas para expandir a oferta de produtos da sociobiodiversidade amazônica. Além do Plano de Promoção e Divulgação de Mercados e Produtos Sustentáveis, construídos com o objetivo de promover a imagem dos produtos da sociobiodiversidade amazônica e divulgá-los, por meio de estratégias de comunicação e marketing.
Veja alguns registros do Seminário Final (RO)





