Momentos para tirar dúvidas e somar saberes sobre técnicas sustentáveis de cultivo, manejo e de beneficiamento do cacau – tudo para ter mais produtividade e renda alinhada à conservação da floresta. Esse foi o objetivo dos dois Dias de Campo que aconteceram com Organizações Socioprodutivas (OSPs) parceiras do Projeto Rural Sustentável – Amazônia, no Pará. O primeiro momento prático foi com a Cooperativa Agrícola dos Empreendedores Populares de Igarapé Miri (CAEPIM), no município de Igarapé-Miri (PA), e o segundo com a Associação das Mulheres Produtoras de Polpa de Fruta (AMPPF), em São Félix do Xingu (PA). Veja como foi!
Pausa para um breve contexto do cacau
O Pará responde por mais de 53% da produção nacional de amêndoas de cacau, com cerca de 150 mil toneladas anualmente, impulsionando a economia local, segundo dados da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac), em 2023. Esse resultado é fruto do trabalho a muitas mãos, especificamente dos mais de 31,5 mil produtores rurais locais, como divulgado pela Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas do Pará (Fapespa) e pelo governo do Pará, em 2024.
Mas, muito além de gerar renda para produtor local e movimentar a economia do estado, a produção do cacau pode contribuir para o enfrentamento da crise climática. Isso porque o extrativismo do fruto evita o desmatamento das florestas, e o seu cultivo, em Sistemas Agroflorestais (SAFs), por exemplo, têm potencial de regenerar áreas degradadas, aumentar a cobertura florestal e estocar carbono da atmosfera – como aponta o artigo divulgado pela Embrapa, em 2024. Um sistema de produção sustentável e viável no bioma amazônico, já implementado nas propriedades das OSPs parceiras do Projeto.
O primeiro Dia de campo foi em Igarapé-Miri, na CAEPIM
A cerca de 232 km de Belém (PA) está o município de Igarapé-Miri onde encontram-se as famílias produtoras e agroextrativistas da Cooperativa Agrícola dos Empreendedores Populares de Igarapé Miri (CAEPIM), formada por mais de 70 associados e associadas. O Dia de campo com a OSP aconteceu na propriedade de um dos seus associados, o Ronaldo Lobato, que recebeu a equipe do Projeto e os produtores e produtoras da OSP, para, juntos, trocarem conhecimentos e tirar dúvidas sobre os tipos de cacaus e sobre como aprimorar técnicas de produção.

A organização trabalha há anos com o manejo do açaí, mas neste momento está uma caminhada para diversificação da sua produção com o cultivo do cacau – com o intuito de continuar garantindo renda nas entressafras do açaí. O anfitrião, Ronaldo, compartilhou a importância de momentos como esses, que conectam a teoria e a prática no campo, e ajudam a OSP a alcançar seus objetivos. “Nós fomos a campo após receber a teoria de como lidar com cacau, a respeito das técnicas e tudo mais. Então, é um sentimento de alegria, por estarmos recebendo esse acompanhamento, principalmente a parte prática, porque ouvir falar é uma coisa, mas receber na prática, com certeza é fundamental. Então, em poucas palavras, atribuo aqui a minha satisfação de fazer parte desse momento”, ele conta.
Para a monitora de campo, Cláudia Olimpo, foi um dia repleto de trocas e encontros produtivos que oportunizou a participação de todas as pessoas presentes. “O Dia de campo abordou o conceito de alguns termos da cadeia do cacau, trouxe técnicas de como manejar de forma eficaz, apresentou as principais doenças, a diferença entre um cacau de várzea e um cacau de terra firme e muitos outros aprendizados. Então, foi um dia bem proveitoso para todas as pessoas”, ela destacou.
Confira alguns registros!



A 1.000 km de distância, o Projeto também marcou presença em São Félix do Xingu, na AMPPF
As boas práticas de beneficiamento na lavoura cacaueira também foi tema no Dia de Campo com a Associação das Mulheres Produtoras de Polpa de Fruta (AMPPF), em São Félix do Xingu (PA). Por lá, o Projeto contou com a parceria do IDEFLOR-Bio, que levou a engenheira agrônoma, Keyla Borges, para compartilhar o que sabe com as famílias produtoras e agroextrativistas que já atuam com o cacau há anos e com a produção de polpas de frutas. O encontro foi para tirar dúvidas sobre como evitar a má formação do fruto, quando aplicar produtos para controle de praga, como identificar o momento certo para tirar um “galho chupão” – que cresce na base da planta e tira os nutrientes do galho principal -, entre outros aprendizados.

A engenheira agrônoma destacou o papel da OSP na produção de polpas de frutas para a região e como o Dia de campo foi importante para trazer conhecimento específico para o contexto da organização. “Esse momento se torna imprescindível no sentido de somar com a associação, trazer conhecimento específico para que aprimorem a questão da produção e produtividade do cacau, bem como fazer uma amêndoa e uma polpa de qualidade, além de descobrir novas possibilidades como a extração do mel do cacau, que pode agregar valor para quem trabalha com produtos advindo dos SAFs de cacau”, ela conta.
Na OSP, algumas famílias produtoras já utilizam sistemas agroflorestais e outras começaram a implantar, aliando o cultivo do cacau com a banana, o feijão, a macaxeira, a laranja, o limão, a andiroba e outras espécies de plantas frutíferas. A associada, Darlene Pereira, compartilha como o Dia de campo dialogou com o trabalho que ela já vem realizando na sua propriedade. “Hoje, tivemos um dia maravilhoso de aula teórica e prática no campo com a Keila e com a equipe de campo. E, para nós, está sendo muito gratificante, porque nós estamos aprendendo a combater as pragas nas nossas lavouras e a aprimorar o plantio nos nossos SAFs”, ela destaca.
Além de todo esse aprendizado, no final do dia, foi feita uma demonstração de corte de amêndoa para a fermentação – umas das etapas mais importantes do processo de produção do cacau, para reduzir a umidade e a acidez do fruto. Segundo a monitora da cadeia do cacau, Cláudia Olimpo, o momento serviu para incentivar os agricultores a implementar novas práticas sustentáveis, com foco em aumentar a qualidade e a produtividade dos produtos da organização.“E, para fechar o Dia de campo, foi feito uma demonstração de corte de amêndoa, para obter uma amêndoa bem fermentada, e de lá nós saímos com o sentimento de instigar os agricultores a buscar manejos mais sustentáveis para a lavoura do cacau”, finaliza Cláudia.
O que vem por aí
O próximo destino é o município de Altamira (PA), onde mais duas OSPs da cadeia produtiva do cacau vão receber a equipe do Projeto para dois Dias de campo. O objetivo é aprimorar o conhecimento das famílias produtoras para mais produtividade, qualidade de vida e renda, alinhada à conservação da floresta. Continue nos acompanhando por aqui para não perder nada!
Confira alguns momentos!


