OSPs da cadeia da castanha recebem primeira visita de ATER do Projeto

O intuito foi mapear o contexto local e produtivo e somar saberes comas famílias agroextrativistas, visando mais renda aliada a conservação da florest

De Tefé (AM), seguimos pelas estradas e rios amazonenses com o intuito de somar conhecimento com três Organizações Socioprodutivas (OSPs) parceiras do Projeto Rural Sustentável – Amazônia, pela cadeia da castanha-do-Brasil. As primeiras atividades de Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER) iniciaram no estado com objetivo de mapear o contexto local e produtivo das famílias agroextrativistas, com foco na construção de um diagnóstico que vai inspirar planos para  potencializar o manejo, a coleta e o beneficiamento já realizado pelas comunidades – sempre alinhados às oportunidades de mercado e a conservação da floresta. 

Pelas rotas amazonenses para construir em conjunto com três organizações socioprodutivas 

A viagem começou seguindo o curso dos rios Solimões e Madeira, além das estradas de chão, para colocar em prática as atividades de ATER com as famílias agroextrativistas da Associação de Moradores Agroextrativistas da Comunidade de Repartimento, da Associação Comunitária Indígena Nova Esperança do Povo Kokama da Barreira da Missão de Baixo (ACINEPK) e da Associação de Produtores Agroextrativistas da FLONA de Tefé e Entorno (APAFE). No contexto da castanha-do-Brasil, a assistência técnica será importante para potencializar as práticas de manejo tradicional e aprimorar técnicas de beneficiamento e de comercialização.

Após 15 horas de viagem pelo Rio Madeira, a equipe de campo desembarcou no município de Manicoré (AM) – onde está a organização socioprodutiva do Repartimento, que fica a mais de 400 km de Tefé (AM). E foi lá, onde a associada e 2º segunda secretária, Neuda França, contou como as trocas com a equipe tem ajudado a comunidade a perceber o valor da castanha, aliada à assistência técnica, que vai aumentar a produtividade e a renda de forma sustentável.  

Neuda França, associada e 2º secretária da OSP Repartimento

A associada compartilha: “O Projeto veio para nos ajudar a saber mais sobre o preço da castanha, pois nós vendíamos a um preço baixo, porque não tínhamos aquela experiência como nosso produto. Na oficina, eu tô aprendendo muitas coisas boas. Eu tô muito satisfeita, muito agradecida pela presença de todos que vieram para nos ajudar com a nossa produção da castanha. Vocês vieram para nos incentivar a vender o nosso produto de qualidade a um preço bom”, destaca a Neuda. 

A coordenadora da equipe de campo, Quênia Barros, ressalta os principais momentos com as famílias agroextrativistas como uma oportunidade de interação entre todas as pessoas presentes. “Iniciamos essa atividade com uma chuva de ideias, mencionando algumas temáticas importantes para as famílias beneficiárias, como sustentabilidade, boas práticas de manejo da castanha, comercialização e a influência das mudanças climáticas no que diz respeito a floração prematura e produção da castanha do brasil nos castanhais, entre outros temas ”, conta. 

Após essa troca, foi aplicado um questionário socioeconômico para entender as expectativas, potencialidade, dificuldades e os anseios locais. Além disso, as famílias apontaram no mapa da comunidade onde residiam, os roçados e as áreas coletivas da castanha, com o intuito de facilitar as visitas e o planejamento da assistência técnica.

Rumo às estradas de chão para somar saberes na coleta da castanha com a ACINEPEK

As águas amazonenses cederam lugar para as paisagens de chão, que promovem o equilíbrio da biodiversidade e são meio de locomoção para as populações locais. Aliás, algumas dessas comunidades fazem parte da Associação Comunitária Indígena Nova Esperança do Povo Kokama (ACINEPEK), próximo a Tefé (AM), onde tem como tradição o manejo e a coleta da castanha-do-Brasil. É isso o  que conta Ronilson Ferreira da Silva, um dos seus associados. “Eu comecei a coletar junto com o meu pai, desde os 12 anos. Mas, depois que eu formei a família, comecei a vir sozinho mesmo coletar a castanha”, fala brevemente a sua história.

Segundo ele, as técnicas, passadas de geração em geração, foram também compartilhadas com a equipe de campo do Projeto e já estão sendo aprimoradas nas atividades de ATER. “Para mim, a oficina foi muito importante porque a gente não sabia as melhores práticas de como coletar castanha, a gente pegava de qualquer jeito, mas agora a gente tem uma experiência melhor e facilitou para nós da associação […]. A oficina ajudou a gente a se organizar mais, a coletar. Então, foi muito bom! Espero que vocês venham várias e várias vezes para termos mais experiência”, ele disse. 

As atividades de mapeamento local e produtivo também aconteceram na OSP ACINEPEK, mas com atenção aos seus modos de vida, práticas produtivas e cultura. É isso o que a assistência técnica do Projeto busca, uma ATER adaptada às especificidades de cada cadeia produtiva e aos anseios das famílias produtoras e agroextrativistas. 

Das estradas de chão de volta às estradas fluviais em direção à APAFE 

O destino final desta primeira rodada das atividades de ATER no estado foi a Associação de Produtores Agroextrativistas da FLONA de Tefé e Entorno (APAFE), que conta com cerca de 500 associados e associadas. Por lá, as principais atividades econômicas são a agricultura de subsistência, pecuária, pesca e o extrativismo da castanha, por exemplo. Na região, os frutos dos castanhais fazem parte da história e são sinônimos de subsistência e fonte de renda sustentável para as comunidades locais. Muitas delas utilizam a castanha como matéria prima de diversos produtos.  

Maria Ezimar Rocha, associada da APAFE

A Maria Ezimar Rocha, associada da comunidade quilombola São Francisco do Bauana, é uma dessas pessoas.“Bem, a castanha para mim é bem utilizada. Eu uso ela para comer, para fazer doce, doce seco, para colocar na tapioca, num bolo de massa, bolo de macaxeira, então para mim a castanha é muito utilizada, e só não só para mim, mas para várias pessoas [que também vendem a produção]”, ela destaca. 

Segundo Luzivaldo Júnior, monitor do Projeto pela castanha, as famílias agroextrativistas já implementam diversas técnicas tradicionais sustentáveis, tanto de manejo, como de coleta e de beneficiamento, mas, agora, cada uma dessas práticas poderá ser aprimorada e potencializada, de acordo com os anseios da OSP. “Essas práticas tradicionais podem ser aprimoradas com técnicas de manejo, beneficiamento e estratégias de comercialização, dentro da assistência técnica, assim como em outras capacitações que vão agregar valor ao produto e que o Projeto vai oferecer”, ele finaliza.

Confira o que vem por aí 

As informações coletadas nesta primeira visita serão sistematizadas em um Diagnóstico, com apontamentos das principais dificuldades, lacunas e oportunidades da cadeia produtiva e do contexto local. Muito em breve, esse material servirá de insumo para o planejamento das ações de ATER com base nas demandas das famílias agroextrativistas, com foco em mais renda e qualidade de vida, aliada a conservação dos recursos naturais. 

Veja alguns registros das atividades de ATER

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