Para colocar em prática a construção coletiva e as atividades centrais do Projeto Rural Sustentável – Amazônia, desde o início de maio foram iniciadas rodadas de oficinas com as Organizações Socioprodutivas (OSPs) do Projeto. No Pará, foram 14 encontros com as sete organizações parceiras que atuam com as cadeias do açaí e do cacau. Esse foi o começo de quatro ações no PRS – Amazônia: fortalecer as cadeias produtivas, identificar novas lideranças e fortalecer as já existentes, identificar possibilidades de novos mercados e elaborar os planos de negócios para as OSPs parceiras do projeto.
Na cadeia do açaí, as atividades foram na Associação Multissetorial dos Empreendedores de Beja (AMSETEB) em Abaetetuba, na Associação dos Moradores e Agricultores Remanescentes de Quilombolas das Comunidades de Santa Quitéria (AMARQUISI) em Acará e na Associação de Preservação do Meio Ambiente do Rio Mupi (APREMARMU) em Cametá. Já na do cacau, a equipe se dividiu para visitar a Fundação Viver, Produzir e Preservar (FVPP), o Sindicato dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares de Altamira (STTR), a Cooperativa Agrícola dos Empreendedores Populares de Igarapé-Miri (CAEPIM) e a Associação das Mulheres Produtoras de Polpas de Frutas (AMPPF) em São Félix do Xingu.
Essas oficinas foram divididas em dois blocos: o primeiro focado em fortalecer as cadeias produtivas e identificar novas lideranças, fortalecendo as já existentes; e o segundo, com foco em identificar possibilidades de novos mercados e elaborar os planos de negócios para as OSPs parceiras do Projeto. A intenção é construir em conjunto uma base de informações que possam nortear planos personalizados e que tenham as percepções da organização parceira, as aspirações, as potencialidades e, também, os desafios já mapeados.
Oficina de diagnóstico de fortalecimento de cadeia produtiva: cacau
1ª etapa | Planos de Fortalecimento de Cadeias Produtivas
Oficina para mapear as cadeias produtivas, a partir do olhar das organizações
Curso de Lideranças
1º etapa | Formação e fortalecimento de lideranças
Identificar lideranças e novos líderes para fortalecer a participação social no contexto das organizações
Oficina de diagnóstico de Plano de Negócios
1ª etapa | Planos de Negócios personalizados e participativos
Oficina para entender o contexto, aspirações, possibilidades, dificuldades e potencialidades de cada OSP
Oficina de diagnóstico de estudo de mercados
1ª etapa | Estudos de mercados
Estudar o mercado amazônico a partir do que já é comercializado pelas OSPs para impulsionar a inserção em novos mercados
Todas as seis cadeias produtivas dos três estados de atuação estão sendo contempladas pelas atividades: açaí e cacau no Pará, castanha-do-Brasil e pirarucu de manejo no Amazonas, e peixes redondos e café em Rondônia.
1ª rodada de oficinas: diagnóstico de fortalecimento de cadeia produtiva e curso de lideranças
Para abrir o espaço de troca e de escuta ativa das oficinas, o primeiro momento foi mergulhar na rica história da OSP contada pelas famílias que fazem parte da organização, desde sua fundação até os desafios e conquistas do presente. A conversa seguiu com a dinâmica do “rio do tempo”. Carla Furtado, Coordenadora de campo no Pará, conta que a dinâmica “mostrou a história, as dificuldades, os atores e as conquistas da organização, desde o início aos dias atuais, ressaltando a importância das lideranças durante a história e a importância de fortalecer essas lideranças atuais, de multiplicar o que foi aprendido e trocado durante a oficina”.
Visualizar a história da organização no papel foi o ponto inicial para criar, também, um mapa de atores locais e conhecer quais são os elos da cadeia produtiva a partir da visão da OSP. Essa atividade já foi parte da oficina de diagnóstico de cadeias produtivas, que servirá como insumo para criar um plano de fortalecimento das cadeias produtivas, tanto do açaí quanto do cacau.
Durante a atividade, ficou evidente, por exemplo, o potencial do cacau e do açaí em sistemas biodiversos, como Sistemas Agroflorestais (SAFs). Na AMPPF, em São Félix do Xingu, a OSP que trabalha com cacau vem pensando em transformar isso em realidade, aliando o cultivo do cacau com outras frutas para a produção de polpas – o que torna o ambiente ainda mais diverso e pode criar uma forma de sustento duradouro para a comunidade, especialmente para as mulheres.
Já na cadeia do açaí, Enilda Vasconcelos, participante das oficinas na AMSETEB, conta que foi um momento rico em abranger o conhecimento técnico sobre o fruto, sem deixar de valorizar as experiências do produtor nativo. “Percebo que nossos associados estão mais confiantes no trabalho da associação. Acredito que, com a continuação das oficinas, teremos um maior percentual de conhecimento e engajamento nos nossos projetos coletivos, e com certeza bons resultados no futuro. Expresso a minha gratidão a toda a equipe organizadora das oficinas e aos calorosos palestrantes que usam metodologias e linguagem bem acessíveis ao grau de entendimento dos nossos associados”, destacou.
2ª rodada de oficinas: diagnóstico de Plano de Negócios e estudos de mercado
Para entender o contexto, as aspirações, as possibilidades, dificuldades e potencialidades de cada OSP, ninguém melhor do que a própria organização para contar à equipe do Projeto essas informações. Com uma escuta ativa, foi possível entender para além da história da OSP, e ter informações detalhadas para criar um Plano de Negócio personalizado e participativo, e, ainda, um plano para ampliar e diversificar produtos e mercados.
José Maria de Carvalho Souza, vice-presidente da APREMARMU que trabalha com o açaí, nasceu na comunidade do Rio Mupi e faz parte de uma das 74 famílias ribeirinhas da associação que participam do PRS – Amazônia. José Maria, também conhecido como Meireles, conta que a associação espera ver a produção escoada com qualidade, que a venda dos produtos possa melhorar a qualidade de vida da comunidade e que ela possa crescer na educação e na saúde.
“Hoje eu sinto que as nossas esperanças, aquilo que a gente pensa e espera vai de fato para um projeto, de fato para o papel. Há três semanas atrás já tivemos um encontro e agora esse, sinto que a expectativa é muito grande para nossa produção, para a cadeia produtiva como um todo, principalmente do açaí. Talvez hoje, 70% da nossa renda vem do açaí: é esse o nosso dinheiro que a gente compra remédio, faz casa, banca nossos filhos na educação. Ele é a nossa sustentabilidade”, relata Meireles.
Já na cadeia do cacau, as oficinas com o STTR e a FVPP, Antônio José Frederich da FVPP também trouxe suas expectativas com o Projeto para o próximo ano: “Se a gente continuar nessa organização de avançarmos no Projeto, de se unir os pequenos [sic], eu acho que é prosperar. Daqui a 1 ano ter uma avanço muito grande com a ajuda de vocês, eu só penso em melhora. Daqui a 1 ano, estar bem melhor”, ele conta.
Para o Projeto, é fundamental que esta primeira etapa seja feita com primor para atingir essas expectativas. Guilherme Pousada, Coordenador de fortalecimento de OSPs, complementa que quanto maior a participação da comunidade, melhor para criar um dos produtos dessas oficinas: o Plano de Negócios. “A participação impacta bastante nesta etapa de diagnóstico. Nós só conseguimos fazer um Plano de Negócios eficiente se ele tiver a cara da OSP, a essência da organização. E quem sabe falar sobre a própria história, desafios e vontades são as próprias famílias da OSP. Essa é a chave para ter esse diagnóstico bem feito e completo”, ele relata.
Visão de futuro
Quem colaborou nas oficinas também apontou um caminho com desenvolvimento de modelos compartilhados e inclusivos, que envolvessem jovens e mulheres na tomada de decisões, promovendo um futuro mais justo e equilibrado para as comunidades. Em Altamira, por exemplo, a participação dos jovens na Casa Familiar Rural da Fundação Viver Produzir e Preservar (FVPP) é um convite a pessoas que vão se profissionalizar, tendo um olhar apurado para uma nova realidade de cacau, de aumentar a produtividade sem desmatar outras áreas.
“É muito importante trazer esse conhecimento pra falar da agricultura, desde o plantio, à colheita, à venda, o que é, como manusear, como tratar a lavoura. Ver o brilho nos olhos da juventude, dos jovens alunos da Casa Familiar Rural, não tem preço, é impagável”, conta Sandra Ribeiro, participante das oficinas na FVPP. “Os jovens da Casa Familiar Rural saíram com grandes ideias de incentivar os pais a continuar na lavoura, de como elaborar projetos para trazer recursos para dentro da lavoura – não só para os pais, mas para toda a comunidade. Para mim, essa experiência foi maravilhosa, e que venham mais!”.
Já na cadeia do açaí, a jovem Bianca da comunidade do Rio Mupi, da APREMARMU, destaca a importância da participação das futuras gerações nas discussões atuais:
“Apesar de ensinarem sobre o manejo do açaí, eles também estão mostrando um tipo de visão de futuro que a gente poderia ter. E é uma coisa que todo jovem deveria ter: a visão de futuro. Então o que eu espero das oficinas é que eles venham mais vezes, para ensinar mais, com mais conteúdo para a gente aprender e com mais dinâmicas para outros jovens também virem e criem um futuro melhor para nossa comunidade”, conta Bianca.