Entre os dias 8 e 10 de julho, o Projeto Rural Sustentável – Amazônia realizou, em Manaus (AM), o Seminário para apresentação dos estudos de mercado e dos planos de fortalecimento das cadeias da castanha-do-Brasil e do pirarucu de manejo. O evento reuniu mais de 80 participantes, incluindo manejadores, extrativistas, representantes do governo, setor privado e instituições parceiras, com o objetivo de consolidar propostas que aliem conservação ambiental, geração de renda e inclusão social no interior da floresta.
A principal frente de atuação do Projeto nas cadeias da castanha e do pirarucu de manejo é evitar o avanço do desmatamento em novas áreas da Amazônia. Para isso, incentiva-se o fortalecimento da cadeia produtiva como um todo, contribuindo para que produtores e produtoras consigam aumentar a produtividade e a renda nas áreas já manejadas, ao mesmo tempo em que enfrentam os efeitos das mudanças climáticas de forma coordenada e adaptativa.
De olho no contexto
O Amazonas se destaca como referência nacional em cadeias produtivas da sociobiodiversidade, especialmente na produção de castanha-do-Brasil. Dados do IBGE (2023) apontam o estado como o maior produtor do país, envolvendo mais de 6,5 mil coletores, segundo o IDAM (2020). Mas ao longo da cadeia, ainda persistem desafios como a informalidade na coleta, infraestrutura logística precária e a falta de beneficiamento local – fatores que limitam o aproveitamento do potencial produtivo, ainda muito dependente do extrativismo tradicional.
Já no que se refere ao manejo sustentável do pirarucu, a atividade envolve mais de 8,9 mil manejadores no estado, com uma produção de cerca de 4.500 toneladas, segundo o Coletivo do Pirarucu, em 2024. Entretanto, esbarra em desafios logísticos que impactam na conservação e, em consequência, na qualidade da produção, que refletem na pouca aceitação no mercado amazônico e fora dele.
Abertura com diálogo interinstitucional e lançamento do Plano ABC+ AM
A programação do Seminário teve início com a assinatura simbólica do Plano de Ação Estadual do ABC+, reunindo representantes do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), da Comissão de Agricultura da Assembleia Legislativa do Amazonas (COMAPA/ALEAM), da SEDER/AM e do Grupo Gestor Estadual do Plano ABC+ no estado do Amazonas (GGE/AM). O objetivo foi integrar esforços em prol de uma agricultura de baixa emissão de carbono, com estratégias voltadas para mitigar os efeitos das mudanças climáticas, promover o uso sustentável da terra e manter a floresta em pé.
Durante o encontro, os participantes reforçaram a importância de alinhar políticas públicas e iniciativas produtivas em torno de práticas sustentáveis que respeitem as dinâmicas dos territórios amazônicos, valorizando os povos e comunidades tradicionais como protagonistas na preservação ambiental.
Fortalecimento das OSPs e escuta ativa das comunidades
No segundo dia, o seminário promoveu um momento dedicado à troca entre as Organizações Socioprodutivas (OSPs) que já integram o PRS – Amazônia e as quatro novas organizações que entraram no Projeto em 2025. O encontro foi um espaço de escuta e construção conjunta, no qual os representantes trouxeram suas realidades, expectativas e propostas para o futuro.

“A gente precisa da ajuda do estado, municipal, estadual, federal, porque é muito trabalho para nós que trabalhamos com o manejo. É por isso que hoje a gente se encontra aqui no Projeto”, destacou Maria Dione Ramos, cacica Apurinã da OSP a Associação União das Comunidades Indígenas e Não Indígenas do Rio Copea (AUCINIRC), que atua com o pirarucu de manejo no município de Coari (AM).
“Hoje o principal desafio nosso é na parte da comercialização. Não temos ainda parceiros que a gente possa comercializar o nosso produto de uma forma digna. Temos um grande potencial de produção e podemos evoluir muito. O PRS – Amazônia foi o projeto que veio abrir as portas para que a associação possa mostrar o que tem”, reforçou Antônio Furtado, presidente da Associação de Moradores Agroextrativistas da Comunidade de Repartimento, da cadeia da castanha-do-Brasil.

Conexões com o mercado e desafios para agregação de valor
No terceiro dia, o seminário público apresentou os planos de fortalecimento e os estudos de mercado das cadeias da castanha e do pirarucu, ao mesmo tempo em que promoveu um espaço aberto para diálogo com o setor privado. A troca com representantes de empresas e instituições apontou caminhos possíveis para ampliar o valor agregado dos produtos, especialmente para garantir retorno efetivo para quem está na base produtiva.
No caso do pirarucu, surgiram propostas como o fortalecimento da salga como alternativa de mercado, a implementação de estações de beneficiamento mais próximas das comunidades, e o reconhecimento do manejo como um serviço ambiental essencial prestado por comunidades indígenas e ribeirinhas. Também foi destacada a urgência de modelos de comercialização mais justos e transparentes que considerem os custos reais da produção, e a complexidade na garantia da origem do pescado em alguns fluxos de comercialização — tema que demanda ações integradas e adaptadas às realidades locais.
Já na cadeia da castanha-do-Brasil, os diálogos reforçaram a importância de boas práticas que melhorem a sanidade e o armazenamento dos ouriços, com soluções acessíveis e adaptadas aos territórios. Também foram identificadas oportunidades de inovação com subprodutos da castanha, e discutido o incentivo ao plantio de mudas de castanheira, como medida de reflorestamento e segurança econômica futura para as novas gerações na comunidade – muitas delas já lideradas por jovens.
Essas contribuições reforçam a importância de seguir escutando e cocriando com os territórios, promovendo cadeias produtivas que gerem renda, conservação e autonomia a partir das realidades locais — mantendo a floresta em pé e ativa.
Planos e estudos apresentados
Durante o evento, foram detalhados os planos de fortalecimento das cadeias do pirarucu de manejo e da castanha-do-Brasil, elaborados com base em diagnósticos participativos envolvendo a base produtiva e diferentes instituições locais. Esses planos propõem soluções para os principais desafios das cadeias, incluindo ações para ampliar a diversificação produtiva, melhorar a estrutura logística, fomentar boas práticas agroecológicas e ampliar a inserção nos mercados.
Também foi apresentado o estudo de mercado realizado pelo Projeto, que analisou mais de 200 pontos de venda nacionais e internacionais e ouviu mais de 900 consumidores nacionais e internacionais, para identificar demandas, preferências de consumo, diferenciais competitivos e oportunidades para inserção comercial dos produtos amazônicos. A expectativa é que esses materiais sejam insumos para gerar renda para as comunidades do estado e que possam ser instrumentos práticos para o desenvolvimento sustentável e competitivo dessas cadeias nos próximos anos.