A terceira rodada de visitas às Organizações Socioprodutivas (OSPs) foi no Amazonas. Assim como nos outros estados, a intenção é criar e desenvolver um espaço de diálogo e escuta ativa com membros da OSP, além de conhecer melhor a região e planejar percursos otimizados no futuro.
A equipe de campo do Projeto percorreu o Amazonas e um dos desafios estava justamente na logística do maior estado brasileiro: avião, carro, barco e os impactos das mudanças climáticas. Com a baixa dos rios, ficou notável a integração de dinâmicas sociais, econômicas e culturais com as riquezas da natureza e os desafios para mitigar os efeitos dessas mudanças e as mudanças climáticas em si.
“Tivemos a oportunidade de acompanhar esses trajetos durante a seca amazônica que vem afetando diversas populações ribeirinhas e indígenas. Mesmo assim, fomos muito bem recebidos por todos os membros das OSP selecionadas e eles aguardam ansiosos o começo das principais atividades do Projeto”, conta Fernanda Martins, coordenadora da equipe de campo do Projeto no Amazonas.
Nesse cenário complexo, foram visitadas as OSPs das duas cadeias produtivas abrangidas pelo Projeto no estado: pirarucu de manejo e castanha-do-Brasil.
Amazonas | Cadeia produtiva do pirarucu de manejo
Associação dos Produtores Rurais do Setor São José
A Associação dos Produtores Rurais do Setor São José nasceu da luta conjunta entre pescadores locais, igreja e comunidade para conservação da principal fonte de alimento: o pirarucu. E há 30 anos a associação trabalha com este histórico de preservação, que antes de ser uma fonte de renda, é um recurso essencial para sobrevivência das 62 famílias associadas que vivem da pesca no Lago Maraã.
Localizada a 615 km de Manaus, no município de Maraã, a associação também trabalha com a produção de farinha e açaí. E o transporte é crucial para o desempenho das atividades dos associados, que dependem do frete de barcos para pesca do pirarucu e transporte para acesso ao mercado local.
Associação dos Produtores Rurais de Carauari (ASPROC)
A 780 km de Manaus, em Carauari, a associação representa aproximadamente 800 famílias de 55 comunidades ribeirinhas. Criada em 1994, a ASPROC foi uma resposta às dinâmicas de exploração econômica, social e ambiental na região do Médio Juruá, no Amazonas. E essa história traduz até hoje o centro da associação: representar interesses das populações tradicionais, principalmente em relação à melhoria da qualidade de vida e da garantia de direitos sociais.
Ao longo do tempo, a ASPROC vem propondo e criando soluções para questões locais, como grandes distâncias percorridas e a utilização de recursos naturais. Inclusive, esse último ponto é uma gestão participativa com a organização social das comunidades, para unir a utilização desses recursos com o desenvolvimento sustentável das cadeias produtivas. Assim foi para a cadeia de pirarucu de manejo e para a da borracha.
Associação do Povo Deni do Rio Xeruã (ASPODEX)
Às margens do Rio Xeruã, foi fundada em 2006 a Associação do Povo Deni do Rio Xeruã (ASPODEX), unindo o desejo das aldeias de Terra Nova, Nova Morada, Morada Nova, Boiador e Itaúba, em prol de superar as barreiras linguísticas e garantir estrutura para o manejo da pesca do Pirarucu.
A oito horas do município de Carauari, e duas de Itamarati, a ASPODEX conta com famílias distribuídas em cinco aldeias, sendo elas Terra Nova com 14 famílias, Nova Morada com 16 famílias, Morada Nova com 55 famílias, Boiador com 60 famílias e Itaúba com 40 famílias. E, durante os meses de julho e até novembro, os pescadores se juntam para realizar o manejo do pirarucu, que chega a cota de 150 peixes durante este período. Além disso, as famílias também trabalham com o extrativismo da andiroba, cultivo de abacaxi, macaxeira e cana de açúcar.
Amazonas | Cadeia produtiva da castanha-do-Brasil
Associação de Produtores Agroextrativistas da FlONA de Tefé e Entorno (APAFE)
Fundada em 2003, a Associação de Produtores Agroextrativistas da Flona de Tefé e Entorno (APAFE) conta com a participação de 462 associados. Ao longo dessa década de atividades, os associados da APAFE têm trabalhado com agricultura, pecuária, pesca e o extrativismo vegetal. Os produtores que vivem dentro, e ao redor, da Floresta Nacional (FLONA) também se beneficiam pela proximidade dos castanhais às residências, principalmente entre novembro e abril, época da safra da castanha.
A APAFE, junto a outras associações, é situada no município de Tefé, às margens do rio que carrega o mesmo nome e é afluente do Rio Solimões. Sendo Tefé a maior cidade em população da região do Médio Solimões, a cerca de 520 quilômetros de Manaus, capital do estado.
Associação Comunitária Indígena Nova Esperança do Povo Kokama (ACINEPEK)
A história da Associação Comunitária Indígena Nova Esperança do Povo Kokama (ACINEPEK), começou em 2013 com 20 famílias. Hoje, a associação conta com 92 famílias, todas morando uma perto da outra. E mesmo diante das dificuldades, principalmente relacionadas ao transporte, à comunidade mantém o esforço coletivo para garantir a fonte de renda, vinda das produções de farinha, pesca, buriti, açaí, abacaxi, cupuaçu e castanha.