Durante três dias, Belém (PA) foi sede de agendas estratégicas para o fortalecimento das cadeias do cacau e do açaí. Promovido pelo Projeto Rural Sustentável – Amazônia, o seminário reuniu mais de 90 participantes no Parque de Ciência e Tecnologia Guamá (PCT Guamá) para a apresentação dos estudos de mercado e dos planos de fortalecimento elaborados em parceria com organizações socioprodutivas, setor privado e instituições públicas.
O estado do Pará é referência nacional nessas duas cadeias da sociobiodiversidade e lidera a produção brasileira de cacau, com mais de 150 mil toneladas de amêndoas registradas em 2025 segundo dados do Levantamento Sistemático da Produção Agrícola. Além disso, responde por mais de 90% da produção nacional de açaí cultivado, de acordo com dados da Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas (FAPESPA).
Assinatura simbólica do PAE ABC+ e diálogos com o Grupo Gestor Estadual (GGE) foram destaque no primeiro dia
A programação teve início com uma agenda técnica junto ao Grupo Gestor Estadual (GGE) do Plano ABC+, responsável por coordenar as ações da Agricultura de Baixa Emissão de Carbono no Pará. Durante o encontro, Giovanni Queiroz, secretário de Desenvolvimento Agropecuário e da Pesca do Estado, destacou o potencial produtivo paraense e apontou gargalos estruturais que ainda impactam as duas cadeias, como a necessidade de ampliar a assistência técnica como uma via para gerar mais renda a quem produz.
Na mesma tarde, o Projeto foi convidado a participar do lançamento do Plano de Ação Estadual do ABC+, realizado na sede da SEDAP/PA. A cerimônia contou com a presença do governador Helder Barbalho, que enfatizou a importância da produção sustentável como estratégia de desenvolvimento no estado:
“A capacidade produtiva do nosso Estado, sendo o maior produtor de cacau do Brasil, com uma área produtiva menor que a do segundo colocado, demonstra o potencial de crescimento que temos”, afirmou o governador.

Um encontro de saberes e de oportunidades para as organizações da base produtiva
No segundo dia, o seminário promoveu um momento de escuta ativa e troca de experiências entre as sete Organizações Socioprodutivas (OSPs) já parceiras do Projeto e as seis novas organizações que agora são parte da iniciativa. O encontro foi um espaço para reapresentar o Projeto, dialogar sobre os desafios locais e alinhar as estratégias de atuação.
“Esse momento é para muita construção, diálogo e participação. Além disso, reapresentamos o Projeto e conversamos sobre assistência técnica, benefícios coletivos, ações de capacitação e possibilidades de adaptar o plano inicial aos interesses e vocações de cada organização”, destacou Tadeu Assad, Coordenador-Geral do Projeto e Diretor Presidente do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento e Sustentabilidade (IABS).






Um encontro aberto a todas e todos comprometidos por cadeias mais sustentáveis no Pará
Encerrando a programação, o evento aberto ao público apresentou os estudos de mercado e os planos de fortalecimento das cadeias do cacau e do açaí no estado, construídos de forma participativa com a base produtiva, técnicos, governo e setor privado. Mais do que uma devolutiva técnica, o momento serviu para conectar quem produz na floresta com quem movimenta o mercado.
A apresentação abordou, entre outros temas, os caminhos para agregar valor à produção e ampliar a inserção comercial dos produtos da sociobiodiversidade amazônica. Aspectos como rastreabilidade, selos, marcas e certificações foram destacados como diferenciais fundamentais para acessar mercados mais exigentes. No entanto, esses mesmos fatores representam desafios para a gestão das cooperativas, especialmente no que diz respeito à organização interna e à governança.

“Fortalecer o coletivo e dar oportunidade de fazer a gestão de tudo isso, esse é o caminho — e logo, a cooperativa se ver como um ator de transformação da comunidade e não só de comercialização. Esse é um dos caminhos que a gente procura em projetos como o PRS”, afirmou Juliana Oler, gerente de sustentabilidade da Oakberry, durante sua participação.
Os dados do estudo de mercado, também apresentados durante o seminário, reforçam essas direções. O material visitou mais de 200 pontos de venda nacionais e internacionais e ouviu mais de 900 consumidores, identificando preferências, diferenciais competitivos e oportunidades comerciais para os produtos amazônicos. Já os planos de fortalecimento para o cacau e o açaí propõem soluções para os principais desafios das cadeias, incluindo ações para ampliar a diversificação produtiva, melhorar a estrutura logística, fomentar boas práticas agroecológicas e ampliar a inserção nos mercados.

“Com bastante carinho apresentamos tudo isso e de peito aberto para entender se o que a gente está apresentando faz sentido, para entender os desafios das cadeias, para entender as oportunidades, o que vem sendo feito e tentar achar as convergências”, reforçou Pedro Xavier, coordenador de cadeias e mercados do Projeto.
O deputado estadual Carlos Bordalo também participou do seminário e comentou sobre a importância da metodologia apresentada:

“Eu fiquei muito impressionado com a sistematização que vocês estão conseguindo fazer em um processo continuado de escuta, formulação, devolução de algo que a Amazônia precisa muito, que é condensar de uma forma mais pragmática possível, dentro do universo utópico, alternativas reais de desenvolvimento sustentável.”
A perspectiva de continuidade e colaboração também marcou os depoimentos das organizações parceiras. Alessandra Rodrigues, da AMPPF, que integra o Projeto desde 2023, incentivou as novas organizações:

“Se eu pudesse dar uma conselho para as novas OSPs seria para elas não desanimarem, porque, os desafios são grandes em termos de associações ou cooperativas, mas a união faz a força. Se cada um pegar a sua ideia e somar com os outros, a gente alcança tudo que a gente almeja”.
Já Vera Lúcia Conceição, da recém-chegada OSP AMAIB, compartilhou suas primeiras impressões:

“É a primeira vez que a gente tem essa oportunidade de vir aqui na capital, conhecer, receber essa apresentação. Para nós é muito gratificante poder participar e conhecer a equipe que vai estar com a gente no campo. Hoje estamos mais preparadas para fazer essa troca de experiências”.