Nos meses de julho e agosto, o Projeto Rural Sustentável – Amazonas desembarcou em terras amazonenses para escutar, trocar e compartilhar com as Organizações Socioprodutivas (OSPs) do estado. Durante as oficinas de Planos de Negócio, foi possível revisitar os diagnósticos sobre as lacunas, desafios e potencialidades, realizados na primeira rodada, e iniciar a construção conjunta de planos personalizados ao contexto de cada OSP. Comunidades indígenas e ribeirinhas, que trabalham na cadeia do castanha-do-Brasil, marcaram presença nos encontros.
Uma delas foi a dona Jucinete Ferreira, da Aldeia Indígena Barreira da Missão de Baixo (AM). Ela faz parte da Associação Comunitária Indígena Nova Esperança do Povo Kokama (ACINEPEK) e é uma das poucas mulheres coletora de castanha-do-Brasil, na região. Acostumada a vender seus produtores a um preço abaixo do mercado para atravessadores, na oficina, ela percebeu que a castanha pode valer muito mais do que imaginava, e saber disso, agora, fará toda a diferença no final do mês.
“Essa oficina foi uma surpresa muito grande! Eu não esperava que o preço da castanha fosse esse preço. Ser maior do que eu pensava! Espero que daqui pra frente, a gente venha dar um preço melhor”, destaca. Essa oficina trouxe conhecimento para os sócios [da ACINEPEK] que não sabiam. Através de vocês que a gente tá sabendo a qualidade da castanha”, compartilha dona Jucinete.
Segundo Guilherme Pousada, coordenador de fortalecimento OSPs no Projeto, o comprometimento foi uma característica marcante nos encontros. “Chamou muito minha atenção o interesse dos beneficiários em planejar um futuro coletivo. Ficou evidente na ACINEPEK, por exemplo, quando no segundo dia o público da oficina praticamente dobrou. Vimos a surpresa dos beneficiários, quando realizamos a metodologia de Plano de Investimento, e quando os participantes entenderam o custo produtivo e quanto recebem vendendo castanha para os atravessadores”.
Quem também pode falar com propriedade sobre as oficinas de Planos de Negócios é a Associação de Moradores Agroextrativistas da Comunidade de Repartimento e a Associação de Produtores Agroextrativistas da FlONA de Tefé e Entorno (APAFE). Durante as oficinas, as organizações tiveram a oportunidade de registrar informações valiosas sobre os desafios enfrentados no dia a dia, assim como as suas aspirações, de curto, médio e longo prazo. Esse processo de reflexão foi o primeiro passo para a construção dos planos de negócios, pensando agora no futuro.
Tiago Simon, assistente de Planejamento e Gestão do Projeto, conta um pouco do que vivenciou durante a oficina com a Associação do Repartimento. “Foi um momento importante pra gente coletar algumas coisas que tinham faltado, fazer correções […]. Depois disso, trabalhamos a visão de futuro da OSP, identificando onde eles querem chegar no curto, médio e longo prazo, e o que precisam para chegar lá (recursos, insumos, parceiros, etc.)”, ele conta.
“É muito legal como eles têm esse desejo de trabalhar coletivamente. Hoje, no Repartimento, cada produtor coleta e vende sua própria castanha. Eles manifestaram muito o desejo de se unir para conseguir um preço mais justo, para usar estruturas de beneficiamento coletivas, etc. Esse senso de coletividade e vontade de crescer como comunidade, não sozinhos”, complementa Tiago.
As oficinas com as três organizações foram pensadas para serem adaptáveis ao contexto de cada região e OSP, pensando em suas diferentes vivências, perspectivas e anseios.
Veja alguns momentos marcantes
Organização socioprodutiva é sinônimo de inclusão e sustentabilidade
Distantes dos centros urbanos, é comum ver produtores e produtoras rurais da Amazônia venderem seus produtos a preços abaixo do mercado a atravessadores – um dos diversos desafios enfrentados pelas comunidades locais. Nesse contexto, a união de forças de agricultores e agricultoras familiares se apresenta com uma resposta viável e sustentável de geração de renda e subsistência. Essa colaboração conjunta é muitas vezes chamada de organização socioprodutiva, termo utilizado para definir grupos formalmente constituídos por produtores(as) rurais que visam desenvolver práticas produtivas de proveito comum.
O PRS – Amazônia acredita que fortalecer as organizações das quais os povos e comunidades locais fazem parte, assim como suas atividades produtivas tradicionais e sustentáveis, é uma alternativa para manter a floresta em pé e aumentar a renda das pessoas que ali residem. São mais de 870 famílias indígenas, ribeirinhas, produtoras e agroextrativistas amazônicas que trabalham há anos nas 18 organizações socioprodutivas, apoiadas pelo Projeto.
Essa segunda rodada de oficinas, especificamente, visa a construção conjunta de estratégias para fortalecer as organizações socioprodutivas parceiras, aliando os saberes tradicionais à técnicas inovadoras na busca por um desenvolvimento sustentável que inclua todas as pessoas. “Nesta segunda rodada, o objetivo foi incentivar o público beneficiário do projeto a ter um olhar estratégico para o futuro das OSPs, pensando no curto, médio e longo prazo”, compartilha o coordenador de fortalecimento de OSPs, Guilherme Pousada. E, para isso, foram implementadas diferentes metodologias, todas adaptáveis ao contexto local.
O que está no radar para os próximos meses
As próximas oficinas de Planos de Negócios acontecerão com as organizações socioprodutivas da cadeia do pirarucu, no Amazonas. As informações levantadas de cada OSP resultarão em um Plano de Ação Estratégico e em um Plano de Investimento.
Além disso, serão realizadas oficinas online para dar início ao Plano de Comunicação e de Investimento. Todos esses planos integrarão o que chamamos de Planos de Negócio personalizados.